Assim se mostra o melhor
Melhor continuar com todas as luzes apagadas
Só assim para que não reparem na minha dor
Para não olhar direto na retina a tristeza emaranhada
Por fios de cobre marrons enferrujados dos olhos em ardor
Melhor permanecer rindo ao longe de onde é certo a imperfeição
Ver que a distância torna mais seguro se agarrar a toda solidão
Perde-se sem medo do que encontrar pelas esquinas
Sem medo de dizer o que sente ao aspirar por mesmo a minha sina
Melhor não julgar sina e sim destino
Para justificar toda minha raiva pela vida
Não criar deuses e culpados por todos assassinos
Mas aceitar que fui eu quem moldou toda esta peste preditiva
Melhor julgar toda filosofia vã e não entregar-se ao pensar
Pois de toda atividade que dispende tempo desejo livrar-me
Para poder dizer viver no limiar de cada dia onde nada faço
A não ser rezar por um deus criado por mim e dormir debaixo de seu pesar
Melhor julgar todo ouro de tolo e da riqueza ter nojo e medo
Livrar-me de todo bem e tudo ignorar e não me importar
Mesmo que meu bem me queira bem
Mas com meus erros bordados em meu pescoço, sei que ela verá
Melhor achar todo amor tolo, bobo e brega
Melhor nada ouvir nada ler e assistir ao respeito
Nada pior que alimentar um desejo a ser combatido com horror
Nada dá mais medo que ser preso por correntes que serão libertar pelo oposto do amor
Melhor livrar-se de falsos amigos
Mas também dos verdadeiros
Pois toda forma de troca de afeto e interesse gera amor
E em momento nenhum podes esquecer-se de cortar todo mal pela raiz
Melhor manter-se afastado de toda lei e poder
Por corromper-se impuro em qualquer meio obscuro
Acreditar-se algo que não é e esquecer-se de toda ignorância
De toda falta de apetite e capacidade inerte
Melhor se manter longe de toda metafísica e dragões visionários
Pois pode perde-se ao contato com algo que não lhe incite o imaginário
E se dele não se livrar, criará sentimentos para chamá-los
E neles não se verão virtuosismos, apenas pedaços mirrados de chuvisco
Melhor não se envolver com mulher nenhuma
Mas melhor também não se envolver com homem nenhum
Não importa o assunto, pois sabes que se conhece
E eles são espelho de tua face e prepotência
Melhor não dirigir a palavra a nenhum desses seres dobrados em si
Melhor não dizer o que acha de ninguém em seu dia mais feliz
Melhor não dizer o que sente por ninguém
Melhor não dizer por que está assim
Todo assim é defesa
Todo assim é assado e fajuto
Todo assim me lembra disso e daquilo
E todo assim termina por ficar assim
Melhor não se envolver com a arte
Pois ela desperta sentimentos também a serem desprezados
Melhor não olhar para frente e nem para trás
Melhor é ignorar todas as chances que resultem em achados
Melhor é não pensar nem cogitar
Pois em toda opinião está cravado o erro de seu pensamento
Torvo e ignóbil
Como todo ser humano, não podes fugir
Melhor é cavar o mais fundo que puder e lá se esconder
O máximo de tempo que conseguir manter
Pois de toda estupidez na superfície estará isento
E nem sempre ouvirão seu lamento
Melhor é do fundo de seu buraco encontrar uma boa a alma que o feche
Para que nem de lá se tenha mais noticia
Talvez seja a hora de desconectar-se
De tudo que inspire o sentimento que mais deseja
Melhor mesmo é morrer
Calmo e quieto, entre gritos de desespero auto-infligidos
Como cacos de sua própria personalidade moldada no fogo da mais alta demência
Melhor é nunca nascer, melhor é não-ser
Melhor é perceber o melhor
Melhor é deixar de te amar