Ex-amor

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Sinto-me um filme antigo. É estranho...

Sou a tela e me materializo.

Ouço passos desgastados; passos distantes, afastados.

O que outrora foram intensas pegadas, onde mais de um deambulava,

Hoje, são tênues marcas esquecidas no calçadão ao lado.

Não há esquina. As esquinas dobram e o curvar-se,

quando forte demais, é humilhante.

Ao lado, de lado, era de ladinho... Lembra?

De lado... Sinto-me assim.

Lado a lado com o meu paralelo em caminhos que se cruzarão.

No infinito? Mas a vida é finda e, mais ainda, cheia de variações.

Ontem sorríamos em uníssono.

Hoje sinto apenas o abismo que você me deixou.

E se não sou o que fomos;

se não mais seremos o que deveríamos...

Por que essa sensação de vazio?

Há hiatos dentro da compressão?

Existem plamas na solidez concreta?

Sou meu próprio medo; minha própria digressão.

O que não quero ser, nunca, é a completude dessa desilusão.

Se existem variações de fantasia, que o meu filme, que a tela vazia,

Não me torne gélido e ímpio.

Não quero ser o algoz de ninguém, nem hoje nem nunca.

Sou amor e amor é dádiva inexaurida,

mesmo quando se não tem alguém.

Nijair Araújo Pinto

Crato-CE, 4 de dezembro de 2007.

14h54min

Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 20/12/2009
Reeditado em 20/02/2011
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