Navio Fantasma
A introspecção é um porto aonde a alma aflita se ancora, balouçando-se no alto da gávea de fantasmagóricas naus de outrora.
O silêncio brada, incontido, dores que se não quer represar; verberam em línguas extintas, profetas apocalípticos, messias ensandecidos,
Roucos de ouvirem sandices, afásicos de absurdas retóricas, passos gastos em ruas tortas, braços extáticos, ardor paralítico, esquecidos.
Vaca a correr, torturada, surrupiados bifes sangrando, mente refém, enevoada, encruzilhada de antigos caminhos – pêndulo do Aqui e Agora.
Despedaçadas almas algemadas, em forçadas galés tormentosas, chicotes em costas vergando, feitores em imprecações.
Desorientadas bússolas girando, timoneiros em providencial catatonia, icebergs em rota de colisão, tubarões famintos em vigia.
Púrpuro tango em lamento, esvaindo-se em diurna desarmonia, trôpego bandoneon solitário, bailarina vendada – sem guia.
Blasfemos prebostes rugindo, fogueiras inquisicionais, vampíricas asas esvoaçantes, sazonais Torquemadas parindo antropágicos corações.
Ácidas canções Lilliput atormentando Gulliver razões, inférteis, cotidianos feijões, enfileiram múltiplos senões, atropelando Quixotes andantes.
Gélidos Universos robóticos, mundos assépticos, hostis; Saara de sentimentos, charnecas de luz néon, oásis de mediocridade.
Alcatéia ameaçadora rosnando, esquivas hostes zumbis, em transe festivos faquires, reverenciando servis, insanas, pueris divindades.
Funâmbula madrugada anuncia: o Sol, majestático, renasce, propõe novos sonhos, novos dias; antigas feridas curando, moinhos de ventos distantes.
A renovação é pedra de toque do Universo. Nele nada fica extático, com todos os seres e coisas a renovar-se constantemente. Quando pensamos na natureza fenomênica de tudo o que nos rodeia, que nem tudo é o que parece ser, ganhamos mais forças para superar as tristezas do Hoje, preparando-nos para vivenciar as alegrias que nos trará o renovado Amanhã. Às vezes, Gulliver desatento, deixo-me aprisionar pelas lilliputianas cordas da incompreensão, libertando-me de suas malhas, cordame de navio fantasma, mediante necessária e saneadora reflexão.
Vale do Paraíba do sul, noite da segunda Terça-Feira de Novembro de 2009
João Bosco (Aprendiz de poeta)