Cidade dos Homens (A Carroça)

A carroça

Somos como cidadãos de meia tigela, inermes, estupidificados.

A contemplar, sem qualquer reação de peso, com olhos esgazeados,

Como se fôssemos impúberes, indefesos meninos abandonados,

Mulheres e homens a fazer-se de mulas, juntando latas e papéis nas ruas jogados.

Um dia causou-me tamanho espanto, hoje nem tanto, dado o inusitado ato tanto se manifestar.

Sem mais delongas vamos aos fatos: assustou-me de pronto ao ver numa tarde qualquer,

Ao invés de uma mula, em infamante mister, vi pelo peso encurvada, atrelada em uma carroça, uma estranha figura.

Meus olhos incrédulos, não quiseram acreditar: a realidade caiu-me na cabeça de forma contundente – como pedra bem dura.

Parei. Voltei e cheguei mais perto; queria ver para crer, como dizem ter feito, decerto, em outros tempos São Tomé;

Que naquela carroça não havia um animal de tração. Era mesmo um ser humano - inacreditavelmente era uma mulher.

(...)

Precisamos nos questionar qual o tipo de sociedade que queremos legar para nossos filhos e netos, se usamos pessoas para fazer papel de animais debaixo de nossos complacentes narizes e olhares. Que tipo de tipo de governantes escolhemos, capazes de organizar e permitir que fatos tão ultrajantes se tornem corriqueiros em nossas ruas e avenidas. Não dá prá fingir que não somos responsáveis por acontecimentos tão deprimentes como este relatado acima: carroças tracionadas por gente. Acontecimentos incompatíveis com a dignidade que se requer para o vivenciar da cidadania, cujo registro nos fará ser execrados pelas futuras gerações.

Vale do Paraíba, madrugada do segundo Sábado de abril de 2009

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 02/11/2009
Reeditado em 30/12/2019
Código do texto: T1900735
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