Precipício
Andei por uma rua deserta
Chutando as pedrinhas no chão
Tentando enfiar na cabeça
Que preciso te tirar do coração.
Senti o vento soprando
Arrastando as folhas quebradas
Enquanto sentia aqui dentro
Cicatrizarem as feridas passadas.
Senti o gosto da chuva
Tocando meu rosto em silêncio
Apagando umas lágrimas tristes
Levando embora este sentimento.
Enquanto teus olhos dormiam
Os meus partiam pra longe
Levando consigo só as dores
E no peito vazio um buraco.
Calei tuas palavras doces
Furei teus olhos sonhadores
Arrebentei teu peito envenenado
De amores que numa chama se consomem,
Matei a vida em teu olhar.
E agora estou voando pro fim do precipício,
Com a liberdade cortando meus ossos.
Com a culpa esmagando minha alma.
Com os meus olhos vagos fitando
Um risco de solidão que passa,
Enquanto a queda sem fim
Arranca aos poucos as batidas
De um peito que sem querer silencia-se
Num sopro mudo no chão.