ÓRFÃ DE VIDA...


Fujo do espelho,
onde se reflete
um corpo alquebrado
e uma alma escura.

Escondo-me das noites de luar,
onde a luz brilha intensamente,
encolho-me no breu da solidão.

Fecho os olhos ao dia
fujo da claridade do sol,
do calor que emana,
pois frias são as noites e dias
em minha cama.

Fujo do passado que teima
em acorrentar o presente.

O futuro? Nem sei se existe,
era ontem que virou hoje
e amanhã que também passa,
sempre se transmuta em ontem,
portanto, só existe o que já passou.

Nem tenho mais relógio,
cansei do balanço das horas
sempre remexendo velhas feridas.

Tudo ao meu redor é escuro e triste,
O jardim da esperança secou,
parei de regá-lo.

Não tenho ilusões a quem oferecer,
sou órfã de vida
lambendo ferida!

De tanto fugir de mentiras,
fujo de mim....
Emoções em finas tiras!

Espectro material que se desintegra,
coração em frangalhos,
sem esperas, nem entregas,
tranco as janelas e portas
olho a vida, sentada numa velha cadeira.

Cubro o corpo que definha
com uma colcha de retalhos,
cada pedaço é uma lembrança
do meu tempo jovem-criança,
onde ainda acreditava.

Fugi de tantas coisas,
feri-me em diversos espinhos
foi o que me restou da flor do amor,
despetalou, murchou, morreu
junto com os sonhos meus
sangrando em cor carmim
e agora, sem mais nada
esqueci como se faz para existir,
então fico e espero o fim...

2006
Anna Peralva
Enviado por Anna Peralva em 25/10/2009
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