Nem carne nem peixe

Tenho p'ra mim

qu'isto assim

não é carne

nem é peixe.

A incerteza

está na mesa

e o pão qu'outrora

abundou...

já rareia.

A tristeza

atracou

no cais vazio

que agora

serve de poiso

às gaivotas

acossadas

pela fúria

dum mar cão

que chicota

impiedoso

tudo quanto

o olhar enxerga.

Tenho p´ra mim

qu'isto assim

jamais chega

a bom porto

Nasceu torto

e os timoneiros

quais rapina

são os primeiros

a cravar seus dentes

podres.

A esperança

já só reside

Lá no alto

em Deus Pai

Aqui,

ao fundo do túnel

tem um abismo

infinito

que a todos

há-de sugar.

Tenho p'ra mim

qu'isto assim

não é carne

nem é peixe.