Ela logo se veste:
camiseta e short,
na boca, o batom
e ouve alto o som
do funk, a batida
já meio entorpecida.
Fecha a bota no joelho,
bem gasto está o salto.
Sorri para o espelho,
vê a falta do dente
do soco que tomou,
d'um que a contratou.
Acabou o leite quente,
engole a seco o pão
e o frio ela já sente
no ar - e no coração -
ao sair para o asfalto.
Zona sul ou zona leste,
que importa a direção
se ela pula entre a lama
logo que alguém chama?
E qualquer um serve,
nela nada mais ferve,
não há uma paixão,
nem sequer há tesão,
é apenas sexo puro
(um comércio duro)
dinheiro vivo na mão,
para dar ali na hora
ao ser que a explora.
E isso não se reverte:
marcada por dentro,
estragada por fora,
tem a doença da peste
(não pôde pegar leve)
e sua vida será breve
como a água de açude,
sabendo que partirá
com dor ... sem amor,
e em plena juventude.
Está na hora do programa,
e vai rolar em muita cama,
se estiver em maré de sorte,
se não, é no carro ou chão.
Passageira para a Morte,
deixa de lado seu drama,
inalando um vil veneno
para ter o tal transporte.
Acende um cigarro forte,
depois sorri e faz o aceno...
...
Pega dinheiro do açougueiro,
do padeiro ... do cachaceiro,
sem sequer dar-lhes adeus,
somente pedindo a um Deus
que o seu dia passe ligeiro!
***
Silvia Regina Costa Lima
setembro de 2009
Obs: Escrevi este texto pensando no modo como algumas pessoas parecem ser empurrados para o lado controverso da vida, mas antes de mais nada, também para que lembremos que tudo tem dois lados e podemos escolher trilhar o escuro e sem volta ou batalhar, como todos, pela luz... esta escolha ainda é nossa, mesmo que mais trabalhosa...