Sonhar para poder entender

É insólito viver a minha vida

Ciúmes de mim mesmo

Abominável criatura digna de adoração

Que deserda seus próprios sentimentos

Seria questão de mansa crueldade?

Ou de cruel serenidade?

Como se não bastasse

Vejo o insensível e sinto o invisível

Precária solidão

Nas miragens de um deserto mundo

Areia e nada mais

Ventos fortes que batem

Águas da chuva que não molham.

Sede de ser o que não sou

Para conquistar o que não quero

E saciar o desespero.

Será que sinto medo?

Talvez sonhar possa ser preciso

Mas se sonho, pesadelos tomam conta.

Acordo no meio da noite

Tomo um copo d’água

O corpo sente um arrepio

Sou capaz de ouvir o barulho que faz o silêncio

Que sussurra no meu ouvido coisa grotesca.

De olhos arregalados abro a porta

E na escuridão vejo o que não deveria ver

Eu acordando para o mundo, que o mal se propôs a dominar.

Novamente acordo, do pesadelo que é o sonhar

Acendo a luz do abajur

Olho em volta e vejo o nada.

Momento de transtorno.

O amor bate à porta

Parece diferente, está negro

Tão impressionante capaz de me desfalecer

Começo a me debater em manifesto a mim mesmo

Como posso ser ruim comigo?

O cansaço toma conta.

Começo a transpirar.

Como é estranho me sentir uma marionete

As mãos que me manipulam são dóceis

Por que será?

Quem será?

A fim de descobrir olho para o céu

E enfim vejo uma luz

Que me impressiona

Que me faz cair em prantos

Então da luz sai a pomba branca

E sobre o meu ombro pousa

E entrega-me um pergaminho incolor

Escrito em fios de letras douradas

Com o propósito de me acalmar

Eu não conseguindo ler, decido então acordar.

O despertador toca

São seis horas da manhã

Ao levantar um papel cai ao chão

Tão simples quanto o pergaminho

Tão belo e encantador quanto os fios de letras douradas

E adornos instigantes

Escrito com tal sutileza que lembra a uma pena que bóia sobre a água.

Esqueço de tudo e começo a ler

As palavras de um sonho que se tornou realidade

Dizendo que sofri para ser feliz,

Que o sofrimento é a verdade

O desespero é a luta

E a pomba branca com o pergaminho incolor

É nada mais do que a rainha do meu castelo de areia feito com total dedicação

Carregando a felicidade, que com um beijo no rosto a coloca em minhas mãos.

Então entendo que tudo o que me pergunto sobre mim mesmo

É a incógnita da vida

Indagada pelo poeta

Sentado em sua escrivaninha

Possuindo uma pena na mão, um copo de vinho

E palavras que se esparramam e caem como água de cachoeira em um pedaço de papel.

Luiz Aguinaldo
Enviado por Luiz Aguinaldo em 28/09/2009
Código do texto: T1836369
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