Tenho Pena
Tenho pena de quem, ingênuo, crê
Que a humanidade tem jeito
E cega a si mesmo para não ver
Que é irreparável o defeito.
O que nas entranhas do homem está
Não é verme passível de medicamento
E infestado sempre ficará
Pois o mal está no pensamento.
Me apiedo de quem o dom da razão
Usa para atos mesquinhos
E se esquece que tem coração
Navegando por sombrios caminhos.
Triste é notar o erro de Deus
Ao dar ao humano poderoso instrumento
E guardar entre os mistérios seus
A fórmula para a fuga do secaz tormento.
Pena, eis o que tenho de mim
Pobre homem que brinca de poeta;
Esperando, temeroso, o seu próprio fim
E destilando pessismo por tudo que resta.
Invejo os loucos que se furtam à realidade
E aos ignorantes que simplesmente não a veêm
Fechando os olhos para a decadente humanidade.
Aqui é o inferno ao qual muitos temem!