DESAMOR

Nada de lembrança

quero esquecer

essa triste herança,

esquecer esse desamor,

sufocar meu amargor,

porque és a escória do mundo,

nada mais pecaminoso

e mais profundo,

ter você

como ponto luminoso,

és o parto da dor,

que chega silente,

na cópula indecente,

que faz abortar o amor,

és astro caído

visão do final,

que gira perdido

em torno do mal,

és a bala inimiga

dissimulada de ouro e prata,

indiferente não liga,

se fere ou mata,

és a voz infernal,

que grita dentro de mim,

feito um urro bestial,

és a insensibilidade,

és um caminho que trilhei,

és a vaidade vadia

és a mulher

que um dia amei ...

ANDRADE JORGE