'POEMEU'

Eu não sou mais eu.

O meu “eu” já morreu.

Existo ? Inexisto.

Resisto ? Desisto.

Por isto, insisto:

Eu não sou não mais eu.

Diga-me, espelho meu :

Quem sou eu ?

Um corpo sem alma,

Que a vida esqueceu ?

Um porto sem calma,

Que a tempestade varreu ?

Um toco oco que apodreceu.

Uma estrela cadente

Que, de repente,

O encanto perdeu.

Quem sou eu ?

Enxurrada descendo a ladeira ?

Barco a esmo rumo à cachoeira ?

Algo sem freio precipitando a ribanceira ?

Eu só sei que nada sou.

Aquele que nem chegou

Quem sou eu ?

Rima pobre deste poemeu.