ESPERA
Fiquei esperando prá te falar,
Até que esqueci que ainda tenho que viver.
Não sei o que sentes, queres, nem onde vais...
A noite veio, a realidade apareceu nua,
E eu estou ainda só, sem ter para onde ir, onde chegar:
Se no amor ou na solidão.
Dissestes coisas fortes e meu coração se acendeu.
Falou de meus sonhos, da nostalgia, do amor...
...Me fez pensar que meu sonhar não é só meu;
Que meu crer não é arcaico, meu querer está na moda.
Saltei do colo da morte e, com força, gritei: “mas que sorte!”
Dormi sorrindo, pois tinha achado meu amor.
Cheio de sonhos, uma vez disquei teu número.
O telefone tocou, até que se cansou e desistiu.
Do outro lado, nenhuma resposta ao amor se ouviu,
Só um dizer ressoou na memória: “é bom ter um amigo assim!”
Quantos são nossos amigos; qual multidão nos rodeia?
Mas pra quantos contamos segredos,
Ou do avesso nos pomos sem medo?
É tarde. O tempo se arrastou, mas passou.
Meu coração te chama ainda, mas a razão reclama:
“Não é hora! Dá de mão na solidão, dá meia volta e vai embora!
É tarde, muito tarde pra em outra casa o telefone tocar.
Mesmo que ames, que de amor por ela clames,
É tarde, eu te digo, e nem mesmo tens porque,
Pois se o telefone atender, dizer-te-á: “amigo”.
“Porque dizer que amas sé és insano?!
Como amar a quem sequer conheces?
Que tolice! Vá dormir, pois noutro dia amanhã hás de surgir,
Quando em tua estrada solitário vais seguir,
Pois este sonho não será teu,
Porque este mundo é real.
Insistente, porém, segui ao telefone tocar na casa tua,
Querendo invadir tua vida, repartir-te sonhos.
E ele tocou que se cansou, mas ninguém pôde atender.
Amargurado então, dei de mão na solidão,
Tranquei por fora o coração, correndo atrás da hora fui,
Curtir calado este vazio só meu.
Quem passou por mim não viu, mas eu senti e bem sei:
Passe a vida e chegue ao fim, serei, por certo, somente amigo de alguém.
Wilson Amaral