Dias de agosto (desgosto enlatado)

Dias de gosto repetidamente rotineiro,

de brisa morna, dentro da norma e normalidade,

dentro da formalidade que não se deforma.

Quero reforma na forma de existir,

explodindo o dia-a-dia em mil pedaços

e que os laços se desatem e formem outros.

Dias de gosto repentinamente passageiro,

dissabores breves, greves de humor

nas fábricas do ânimo alheio.

Anseio o providente esteio das horas

esvaindo o brio do tempo inegavelmente vazio

em que não há meio que se use como freio.

Dias de gosto redundantemente ofertado,

desgosto enlatado a gosto do cliente

para se consumir em todos os dias de agosto.

Observo os rótulos e prazos de validade

questionando o predicado das descrições

ensalmourado na conserva de um porvir qualquer.

Dias de gosto retumbantemente anêmico

mal súbito epidêmico nos olhares difusos,

de fusos contrários, pareados mas solitários.

Saio para o passeio na cadeira de rodas,

nas rodas do carro ou roda-gigante,

mas para seguir adiante é preciso rodar, incessante.

* Considerações sobre o mês de inferno astral virginiano.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 26/08/2009
Reeditado em 26/08/2009
Código do texto: T1775639
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