Uma gota de sangue

Um dia eu amei...

Amei de verdade.

Tanto que aprisionei a liberdade.

Não tive medo

Apesar da imaturidade.

Entreguei-me de corpo e alma.

Chorei... Madruguei muitas noites.

Em prantos a meios soluços adormeci...

Dia e dias eu esperei...

Muitas vezes – tantas vezes – quantas vezes

Sozinha eu fiquei.

Crueldade do destino?

Talvez preço deste amor.

Uma traição

Feito punhal fincou em meu peito

Enfraquecendo minh’alma,

Anestesiando na ânsia da morte...

Conheci a frieza do poço,

O negro da escuridão,

O eco do silêncio... Meu luto.

O chão que abrigou minha existência

Absorveu tortuosamente,

Toda a minha sensibilidade de mulher.

O meu rosto envelheceu

Até mesmo o espelho me desconheceu...

Foi tão forte que cheguei a crer

Na minha incapacidade de amar outra vez...

Aprisionei-me no medo

Por muito tempo...

Por quantos quilômetros caminhei sozinha?

Não sei bem ao certo... Padeci na espera!

Cometi o crime – Deitei-me ao lado do homem errado...

Cumpri pena.

Enfrentei a mais forte tempestade,

A mais violenta fúria do mar.

Passaram-se os anos...

Estou em liberdade.

Mas o mundo ainda me condena

Estou tentando querer alguém...

Mas ele me julga ser forte.

Certamente esquece que sou mulher.

Prejulga um sentimento por medo.

O que muito me machuca.

Talvez seja porque ainda não saiba

Que uma gota de sangue

Pode manchar todo

Um oceano...

Agora eu tenho urgência do amor...

Escrito em 15/06/1998.