Lamento de um velho marinheiro
Para o poeta Gladston Salles
Já não vivo de ilusões
‘inda que os sonhos
Persistam em mim.
Já não ponho os olhos
Além do horizonte possível
‘inda que o encanto
Subsista n’alma
Sempre indescritível.
Sou náufrago
Velho marinheiro
A enfrentar as ondas
De um oceano imenso
Que não é feito só de águas
E me alcança sempre
‘inda que em terra firme:
São vagas de solidão e mágoas.
O horizonte que vejo além
Tão tênue como a ausência
Traz-me sempre à mente
A certeza que me dói mais
Hei de retornar um dia
Para o encontro comigo mesmo
Sem o consolo perpétuo
D’ alguém a esperar-me no cais.