Vidas perdidas

Vidas perdidas

(3º lugar I Festival Alternativo de Poesia – SP – jul / 99)

Quem votou nos mesmos

Tava lelé da cuca

Ou é filho batuta.

Hoje chora nos cantos

A falta de emprego

E o futuro do medo.

O salário vira fumaça

Não dá nem pra birita

Quanto mais pra marmita.

O barraco, quando chove,

Fica mais inclinado

Para oito tá apertado.

Dos carros que controlo

Da boate na esquina

O guarda leva propina.

A mulata sem emprego

Não tem mais faxina.

Já nem lava a vagina.

As crianças sem futuro,

De dia jogam bola

À noite cheiram cola.

E a turma do palácio

Que só caga camarão,

Ri à toa na televisão.

Dizem que tudo vai bem

E logo vai melhorar.

Não suporto esperar.

Mesmo sem estudo

Sei que fui enganado.

Tô perdido, tô cagado.

Ainda rezo aos santos

Pedindo de coração

Que tenham compaixão.

Não é este o destino

Que sonhei para nós.

Fico até sem voz.

Por que esta terra

Desde o descobrimento

Vive no sofrimento?

Peguem seus foguetes

Partam para outro planeta.

Vão chupar uma caceta.

Me rejeitam, me humilham.

Que na fome eu sorria.

Isto é a democracia?

Nem possuo um CPF.

Dizem que tenho valor

Pelo título de eleitor.

Agora manjei a jogada

No meio destas cobras

Somos massas de manobras.

Só queria voltar 1500

Apenas um breve tempo

E soprar outro vento.

Lamentar não adianta.

É preciso ter esperança

E ensinar à criança.

Recuperem a cidadania

Sumam as raposas e gaviões.

Prendam-se os ladrões!

Haroldo P. Barboza

Vila Isabel/RJ

Haroldo
Enviado por Haroldo em 25/07/2009
Código do texto: T1718417