Desilusão
Como a esquecer
pedaços de tempo à correr
como um rio de lágrimas insuspeito
nessa tristeza fingida que tenho
para dissimular a tristeza sentida que sonho
a poesia é um tiro no peito, um abraço químico
um susto na vigília, uma incisão, um soco
e perco minhas horas na ausência do que sou
buscando um ser estilhaçado pelas palavras
vida perfeita, onde estás?
Um exército inteiro destruiria mil mundos
mas não desbravaria meu semblante,
uma tormenta fumegante incendiaria o próprio ar
mas não moveria minha calma planejada e fria.
dou três passos, saio à rua
os homens dissecados olham ao redor
absorvo a tristeza que vem das vitrines que passam
sou outro
uma sombra impalpável que tudo vê mas se cala,
os erros do mundo são por demais pesados
para mim,
como se um rio corresse de cada rosto
ao ver-se refletido no espelho da vontade,
quantas vidas viverá quem nasce?
quantas morrerá quem vive?
Tristes
tristes são os caminhos...