Perguntas?

O que é que se diz a uma menina de quatro anos

Quando ela chora e se diz com saudades da mãe?

Será que temos de sentar com ela e falar a verdade?

Dizer que a mãe dela está morta

E que nunca mais ela irá vê-la e tê-la ao seu lado?

Será que alguém consegue

dizer isso a essa menina?

Será que alguém consegue fazer

com que as lágrimas

deixem de escorrer sobre a face?

E consegue fazer nela brotar

um riso de indiferença?

E fazer com que a vida prossiga normalmente

como se nada tivesse acontecido?

Eu não sei...

Sei que um dia ouvi que sou nada

e concordo com o que disseram.

Realmente, eu não sou nada!

Porque se fosse, essa menina não estaria sem mãe,

nenhuma criança sentiria saudade,

nenhuma criança deixaria de ser criança

e nenhuma lágrima mais brotaria nas faces.

Concordo, eu não sou nada.

E não tenho como resolver algo insolúvel.

Tenho somente de aceitar.

Mas como? Se, homem que sou, não consigo...

Que dirá essa menina

com os seus quatro anos vividos,

faltando um pedaço

que o tempo jamais trará de volta?

Injustiça? Incompreensão?

Talvez não existam palavras no mundo dos homens

que traduzam o que sinto.

E por mais que acredite na imortalidade,

por mais que saiba a Verdade,

por mais que siga as Leis,

o meu momento, por ora, é de tristeza.

A mesma tristeza que a menina sente:

a de não compreender o que se passa

e de achar que tudo é incoerente

e absolutamente sem sentido.

Por isso, eu choro!

Poesia publicada no livro Viver: um jogo perigoso, de Márcio Martelli, Editora In House (2009)