ESCRITOR SEM EDITORA
Sou resquícios de carnavais
retalho de mulambo puído
sou pedaços de mim mesmo
fragmentos de minh'alma
brisa que o tornado engole
onda levada pela maresia
só um bosque devastado
pobre jardim sem flores
sou canavial amargo,
rapa dura sem do çura
apago o fogo da vida
apunhalo a mentira
sou falso guia de cego
mero lábaro estrelado
dormindo em berço esplêndido
eu olho mas não enxergo
durmo de olho aberto
acordo para dormir
mato a cobra e não mostro
nunca atiro pau no gato
como gato não como o rato
'tô no mato com cachorro
sou o ontem feito hoje
pego o sol com os olhos
caçando cachorro a grito
um jovem envelhecido
um velho rejuvenescido
sou artista sem platéia
escritor sem editora
Pô, ninguém publica meus livros!