Em mim.

Carros, caminhões, ciclistas, garota fazendo caminhada, casal sorrindo, calçada.

Que cor é a guia?

É preta, amarela, preta, amarela, cinza, branca, branca, branca...

E volta a ser amarela e preta.

Um poste, dois postes, três.

Posto de gasolina, loja de calçados, lojas de roupas...

Um cachorro de rua sendo expulso pelo burguês.

Olha lá! Aquele rapaz parece um amigo meu!

Pego o celular, o aliso com a manga da blusa e o abro;

Aí lá vou eu, passar nome por nome na agenda de contatos - como de mania.

Leio o nome dele, fecho o celular e fecho os olhos respectivamente.

Depois abro os olhos e volto a olhar:

Boteco, shopping, mercado, vendedor de flores na rua, céu.

Minha cabeça ordenou aos meus olhos que passassem por cima do que fosse escuro, estranho, anormal ou vazio.

Ou do que fosse os quatro.

Tudo isso pra tentar evitar que ele também passasse e estacionasse no meu pensamento.

Então vão, olhos, desviem.

Desviem da rua sem saída, da praça deserta, do olhar obliquo daquele ali.

Desviem do nada e desviem do tudo.

Tenham cuidado ao piscar.

Não podem deixar de reparar nas pessoas

É preciso que sejam rápidos, eficientes

Porque se derem espaço pra alguma coisa que prolongue vou lembrar dele que também prolonga, e...

Vão, vão! Desviem de tudo o que for desestruturado.

E não se esqueçam:

Desviem do meu reflexo no vidro desse carro

E de todo o resto que puder me refletir...

O refletir em mim.

Que cor é a guia?

É preta, amarela, preta, amarela, cinza, branca, branca, branca...

E volta a ser amarela e preta.

Amarela e preta...

Amarela e preta.

Fernanda Luchiari
Enviado por Fernanda Luchiari em 05/07/2009
Reeditado em 20/08/2009
Código do texto: T1684199
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