TELA DA VIDA
Queres saber? Sim, se me perguntas
te direi: anda comigo o fel e o sal;
pegajoso e sujo, doem-me as juntas,
o nevoeiro frio da noite, solidão total.
Meu vil olhar só escorre em chama
e minhas mãos gelam a aurora
no horizontal silêncio em minha cama;
negra nau faz o transbordo vento em fora.
Qual deserto, cada vez mais longe,
escondes de mim olhos minerais,
tua graça incendiária e caprichosa;
fico inabitável como um monge.
Minha alma a tinta do tempo vela
pintando asas de dor em minha tela.