recomeço
Recomeçar
Soerguer o corpo depois do naufrágio
Limpar a fronte
Repleta de suores e de desejos
Edificar cada pensamento
Construído com vento e devaneios
soltos
com toque concreto
dos tijolos e das espadas
Recomeçar
Do chão
Do desvão
Do fosso aquecido pelo dragão
Recomeçar com o corpo bólido
E resignado
Qual cavalo combalido ao final da guerra
Que ainda acha o caminho de volta
Ainda que nada seja igual
Nada seja familiar
Nada seja comum ou vulgar
E, nas horas mesmas
de instantes tão exóticos
A água canta uma melodia plácida na fonte
lavando delicadamente as almas,
Embalsamando esse instante
De recomeçar
Trocar a montaria,
Afrouxar os arreios
Livrar-se das botas e dos rastros
Dos caminhos previsíveis e seguros
E aventurar-se no impreciso,
No duvidoso futuro que ainda
há de aparecer
construído do nada
e reunindo tudo.
Recomeçar
A roda cíclica da história
A dinâmica eterna das memórias
O giro que continua a produzir tontura e
Prazer no grande carrossel da vida.