24 horas

O dia para convocar memórias

para relatar passados,

verdade lúcida tatuada na carne

o dia para mim é velho

fragmento de nuvem

colapso acalentado.

Teu sinal nas minhas mãos

traços do sonho sem arestas

às vezes a tristeza é quase palpável

às vezes a dor quase forma feições visíveis

mas então desaparece,

um dia fui poeta

e um pedaço de mim ganhou as ruas

rondou os becos sórdidos, vagou por vastos subterrâneos

e minha alma ganhou vida

o dia para mim é isso:

a vida que se atira do décimo andar

cruza no caminho com outra que nasce

o dia modorrento, velho

senhoras conversando na calçada

a obrigação nefasta de ir e vir

teu sinal nas minhas mãos é a única coisa

que torna meu mundo

um pouco mais mundo

um pouco mais habitável.