O Abismo das Frustrações

E após o sonho,
depois da onírica sensação
de infinito amor,
o despertar para o cotidiano.

Após o gozo da liberdade,
o encontro com a limitação,
novamente o jogo competitivo.

A perda de vitalidade espiritual
dos ideais transformados
em pesados e onerosos entulhos.

Após vôo pelo ilimitado,
a escravidão de tempo e espaço,
o inflexível ritual das obrigações.

E o que era expansão de consciência
novamente atrelado
as imagens físicas do mundo.

A troca da santidade
pela tosca imagem do santo,
da fé pelos joelhos
prostrados frente ao altar.

E não mais o sublime diálogo
com o divino criador,
mas a prece recitada
num rítmo enfadonho.

Longe do encontro
onde a filosofia fazia-se bela poesia,
a eloquência da oratória vazia de alma.

A perda de harmonização
de sentimentos e pensamentos,
agora razão e emoção confrontam-se.

A expressão da face
perde a sua jovialidade,
desfaz-se de suas peculiaridades,
fica impessoal.

O que tinha suave
atração tornou-se agressiva repulsão.
Retorna a dor das reprimidas paixões.

O ser trancafia todas
as suas portas e janelas,
resguarda-se dentro
do ego ferido pelo dia a dia.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 18/06/2009
Código do texto: T1655480
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