CONCEIÇAO TERRA QUERIDA
"Conceição terra querida
Nossa terra singela e gentil
És um astro que cintila
Neste céu tão azul do Brasil"
Hoje, além da falta
Do ensinamento cívico
E com a degradação em alta
Só o que resta é saudade daquele tempo nostálgico.
"Conceição entre verdes montanhas
Aqui vive tranquila e feliz
Tendo a Virgem do céu por Madrinha
Virgem amada do nosso País"
Hoje, Conceição entre grandes vergonhas
Aqui vive intranquila e infeliz
Tendo a Anglo no papel de madrasta
Na Serra Sagrada- De São José!
"Quando o Sol de manhã se levanta
Conceição em ouro e luz se retrata
E a noite tão alva parece
Ser a Lua uma bola de prata"
Conceição outrora celestial e virginal
Hoje, Conceição infernal e violentada
A Lua triste, entre nuvem de poeira
Não brilha mais, está pálida!
"Tuas serras aqui se revestem
De tesouros, minérios e luz
E de braços abertos se eleva
Na colina sagrada-Jesus!"
Hoje, por propinas indecorosas
Venderam a Serra de São José
Concederam licenças e anuências vergonhosas
E ela não mais ficará de pé...
"Conceição nossa terra formosa
Ouve agora este canto de amor
Salve! Salve!Torrão Divinal
Terra cheia de encantos e esplendor"
Àqueles que te venderam
Fica aqui um canto de dor
De um conceicionense
Triste e angustiado:
Menosprezaram o ecoturismo
Ignoraram a vida, ignoraram a gente,
Pensaram somente
Nesta ação de egocentrismo.
Que cena será? Que horror há de se ver
O paredão da Cachoeira, somente o paredão
Sem uma gota d'água sequer?
Com o seu emblema-O coração
Melancólico, aos poucos esquecido
Sem vida, sem nada, sendo fenecido?...
O rio Santo Antônio
Que já moribundo
Não mais existirá neste mundo,
Sem água, sem mata ciliar, sem peixe, só será desolação
Conceiçao sem serra, sem rio, sem oxigênio
Conceição sem vida, será pó e recordação...
Conceição estará para mim
Tal como Itabira
Para Drummond
Que ao ver desabada
A Serra da Conceição
Por uma mineradora,
Partiu em retirada.
À Serra de São josé vendida sem fé
Restará um buraco ao seu sopé
Quando não mais estiver de pé.
Eu não mais lá estarei
Porque senão morrerei
Em ver tanta destruição:
Ambiental e social,
Moral e cristã-Ai! Bom Jesus!
Ai! São José! Ai Nossa Senhora da Conceiçâo!
Porque tanto mal,
Porque tanta destruição?
Em vez de fomentarem o ecoturismo
Fomentaram o ego, o egocentrismo
Se estou enganado
Que algum conterrâneo
Que aí ainda resiste, pressionado
Por favor, me convence!
Estou pessimista! Estou desolado!
Agora estou fora, mas sou ainda muito matodentrense!
Bom Jesus! Bom Jesus!
Creio que ainda há tempo
Pegue seu chicote
Salve nossa Conceição tão querida,
Repita a passagem da Bíblia até hoje não aprendida,
Chicoteie e expulse os vendilhões do Templo
Os adoradores de Baal,
Os falsos ambientalistas, seguidores de Belzebu.
Não permita que máquinas vorazes e viris
Deflorem o sagrado seio
Da virginal entranha
Da nossa Sagrada Conceição,
Como se Conceição fosse uma meretriz,
Cortejada pelos insaciáveis homens da luxúria,
À mercê de cafetões e cafetinas,
Imbuídos do desejo promíscuo da propina.
Conceição teve
Certidão de nascimento registrada
Por Gabriel Ponce de Lion:
Aqui nasceu Conceição do Mato Dentro!
Conceição terá
Certidão de óbito registrada
Por homens e mineradoras sem coração:
Aqui jaz Conceição do Buraco Dentro!
Sapo! Pitoresco! Bucólico
São Sebastião do Bom Sucesso!
Onde as pererecas felizes
Coaxavam nos regatos com alegria,
Será em breve um
Sapo arrasado! Destruído!
São Sebastião do Buracão!
Onde as pererecas desalojadas e infelizes
Sem regatos, sem água, coaxarão de agonia...
O Sapo estará dentro de um enorme buracão,
Será varrido do mapa.
Que tristeza ver assim minha Terra Natal tão querida,
Conceição que me concebeu a vida,
Sendo tão vilipendiada
Por pessoas insensíveis, nada salutares
Que sem dignidade
Te venderam por um punhado de dólares.
Dinheiro! Êita dinheiro!
Trem danado este dinheiro
Quando usado para o mal. Está causando o dia derradeiro
Da nossa Conceição Terra Querida.
Conceição! Capital Mineira do Ecoturismo?
Até quando? Conceição! Vítima fatal do extrativismo,
Preferia vê-la brilhando com suas brilhantes pepitas: Culturais!
Naturais! Folclóricas! Artísticas! Gente ilustre: Riquezas esculpidas...
Era tão seguro andar nas ruas
E encontrar e se divertir às vezes,
Talvez mesmo com alguma inocente maldade,
Com Xisto, Cocota, Bacurau e Peê ladrão de mussarela,
Sabugo, Chiquito lambreta, Parente e Lamparina,
Neuza, Palmira, Tunin cu de burro e Abel com sua pergunta de sempre:
-Ô mininu du Mené, o que Frei Júlio mandou falar comigo?
Hoje está tão inseguro andar nas ruas
É um perigo encontrar com carros e monstros
Das várias exploradoras e predadoras.
Era melhor encontrar com aquela gente,
Gente humilde, louca e alegre
Do que encontrar com patogênicos engravatados,
Mal intencionados, sem compromisso, sem identidade, sem amor
COM A NOSSA CONCEIÇÃO, TERRA QUERIDA!