Vivo a morte que é o meu nascimento
Não sei o que penso
E tampouco o que sinto
Não sei o que sou
E nem o que não sou
Mas agora
Não faz tanta diferença
Pois abandono aquela
Que foi imposta a mim
E que sempre me abandonou
E agarro-me aquela
Que foi imposta a outra
E que sempre me seduziu
Não fui como eu
E mesmo se fosse
Ainda assim não seria como ti
Pois sempre cultivei
A abstração da solidez
E a concretude da abstração
Alguns podem dizer
Que me faltou vida
Mas o que digo
É que sobrou
Vividez ao meu passamento
Soturnamente
Vou aos poucos
Esvaecendo
Já que minha tão adorada vida
Pôde proporcionar
Uma tão esperada morte