Lábios Adormecidos

Lábios Adormecidos

Ela dormiu antes do final do filme

Adormeceu sem entender a profundidade do romance.

Pegou no sono sem perceber que o filme

Do nosso romance pode ter chegado ao final.

Ela não gravou as frases ambíguas únicas,

Que de tão tímidas são as mais charmosas,

Não botando reparo no aviso cintilante

Dos últimos olhos.

Ela não inferiu a ironia dos obstáculos

O fulgor dos primeiros beijos

Não assistiu, não aprendeu

Que o Amor só tem esse nome

Pelas provas que é capaz de fornecer

Pelos tortuosos caminhos que percorre

Até a delícia do infinito

Cujo talvez não passe de amanhã

Mas que se derrete nos lábios da dúvida.

Por ser noite, o cansaço lhe abraçou

Antes da minha afinada eloqüência

Que ensaiava inveja e inspiração

Através do filme de final esperado

Nem por isso menos mágico

E revoltante pela solidão áspera

Das intempéries da sua ausência

Viva ausência adormecida.

Ela não viu, por fim, a loira menina

De gorro vermelho que beijava

O rapaz de cabelo comprido

Na lentidão da última cena

Ela não quis substituir os atores

Ou refazer a história

Ela dormiu antes do final

Sem notar a profundidade do romance.

Elmer Giuliano
Enviado por Elmer Giuliano em 20/04/2009
Reeditado em 20/04/2009
Código do texto: T1549624
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