No ar
Com extrema minuciosidade adentro dentro de mim,
Vejo a força com que invade-me a paixão e a saudade.
A intensidade que vivo minhas fossas e apogeus,
Em quantos picos flutua minh'alma antes do sol nascer,
Quantos abismos inundo, ainda antes do alvorecer.
Vivo apenas o minuto e não penso no que virá,
O tédio infecta meu espaço, é difícil de respirar.
Quantos mundos ainda giram enquanto eu fico a vagar assim,
Sequer consigo, não reconheço se estou mesmo dentro de mim.
Num instante tudo que era, não é e parece mudar,
No outro deixa de ser, logo volta ao seu lugar...
Sinto passar pela vida sem viver, como numa implosão.
Quem coloca uma lâmpada acesa escondido sob o balcão?
Quem acende e logo a esconde para não iluminar?
Será que existe no universo ou em qualquer lugar,
Um néctar de leveza, um elixir de calma
Uma bebida milagrosa que alivie as dores na alma.
Em quantos cacos meu coração deve se despedaçar,
Até que seja quebrantado chegando ao ponto ideal.
Quantos rios correrão em prantos, até ser suspenso o mal.
Quem ouvirá o murmúrio, quem entende meu dialeto?
Quem tem em seu coração meu ser como predileto?
Oriundo do chão que pisa, o ser humano é barro em igual,
Mas não se engane! O poeta não é só um cara normal,
Ele é um ultraje da mente, uma voz no silêncio que habita,
É o sentimento que controla o músculo que por si só não palpita!