Desabafo

Quero abrir o peito inteiramente

E arrancar de lá o amor vivido

Todos os sonhos e doces lembranças

E a dor crescente de um viver sofrido

E desandar do peito essa saudade

E o fantasma de um sonho perdido

E todo amor que, outrora sufocado

Vem de encontro a um coração ferido

E as vezes feéricas de ilusões que voltam

Num rodopiar de valsas inusitadas

Como um raiar de aurora multicor

Num salão antigo, de coisas passadas

Num revolver de sonhos esquecidos

Que de repente vêm aos borbotões

E se entrechocam com paixões contidas

E nos assolam, assim, os corações

Essa poesia é um desabafo amargo

De alguém que amou profunda e loucamente

Mas veio, um dia, o vendaval da vida

E a destroçou feroz e cruelmente.

Isabel Camargo Pontes