Mais e menos Flores
As flores do meu jardim são de plástico
Não possuem vida
Tal como homens e mulheres andam elas a mostrar o que não são
Fingem a verdade negativa
Abrem mão da água em busca das escuras platéias de uma sala oca
As flores do meu jardim são ridículas
Não possuem cores
Aparecem e desaparecem ao sabor da chuva que lhe convém
São incapazes de afundar
Preferem com ar branco boiar... boiar...
As flores do meu jardim no início eram belas, majestosas, interessantes
Enganam bem e sacodem a poeira somente com o vento dos outros
Amolecem com a tempestade, vão de lá para cá porque não sabem ver
Não possuem olhos. Olhos de águia que não desejam enxergar.
Vivem na superfície adornando casas e aparências efêmeras.
As flores do meu jardim gostam de lágrimas
Lágrimas fúnebres e mentirosas
Não foram feitas para o equilíbrio da vida
São usadas e respiram o mesmo ar daqueles que as carregam
Elas gostam da dor. Manipulam e fincam raízes duras em jarros e caixões ainda abertos.
As flores do meu jardim desejo imensamente cortá-las
Ficam bem, apesar de desbotadas e descansadas, em sepulcros caiados
Elas estão amarradas ao meu passado
Trituram como máquina o meu inconsciente
E sugam com força minha energia
As flores do meu jardim não possuem espinhos
Necessariamente e obrigatoriamente não permitem eu sentir a dor
Elas me apagaram
Não vou mais segurá-las
Vou jogá-las ao vento
Elas vão cair e torço para que - rapidamente – alguma coisa passe pelo seu corpo.
Em lembrança do grupo “Nenhum de nós” - (“A céu Aberto” - 2009)