POR SER MULHER, SOU BÊNÇÃO E MALDIÇÃO...

Por ser mulher recebi

Bênção e maldição...

Às vezes não sei qual pesa mais...

Fazer ainda “coisas de homem”

Como ler, estudar, pensar, escrever,

Forjam intransponíveis abismos

Em meu viver... E os outros...

Afastam-me das pessoas...

- Não que eu me afaste delas,

Mas porque elas se afastam de mim!...

Provincianas cidades...

Penso que esta ambigüidade

É comum a todas as mulheres

Que tem um mínimo

De Quociente Intelectual verdadeiro;

Pois hoje o que vale mesmo

É o “Quem Indica”

Não importando o meio

Para adquirir a “Indicação...”

E quando alguma mulher não entra neste esquema

Além de ser odiada por muitas das demais

Precisa ficar “burra”

E não “saber ver”,

“Nem falar”, “nem ouvir...”

- Ah! A estatueta dos “velhos macaquinhos...”

E quando mais se acredita no ser humano

Mais se “apanha...”

- Mas como mudar

Quem é toda coração e sentimento?

Quem nasceu com olhos puros

E julga os outros por seus próprios parâmetros?

A bênção e a maldição se alternam

Na vida de uma mulher.

Uma mulher que não aceita ser “mais uma”

Em um mundo de formatações iguais...

Mas que também não deseja

Em momento algum “ser mais”,

Quer apenas ser e tão somente ser

O que é... É já é difícil demais!...

O fardo é pesado para assim viver...

Retirar todas as máscaras sociais

E botá-las a correr

Queimando-as para que não voltem,

Para não cair na tentação

De delas se socorrer...

“... Eu só queria viver

Aquilo que brotava

Espontaneamente dentro de mim...

Por que isso me era tão difícil?...”(*)

Por que não podemos nos mostrar

Com toda a nossa nudez?

Sempre encobertas por véus

Será o modo correto de ser?...

“Sede simples como as pombas”

E “prudentes como as serpentes...” (**)

Por ser mulher

Sou bênção e maldição...

Mas sou persistente

Em minha indignação...

Quero apenas ser mulher!

Eu mesma!...

Despida de preconceitos

Sem ter de lutar com moinhos

Como o Caval(lh)eiro Espanhol...

Sem carregar escudeiro,

Bastando-me ao mundo inteiro

Lutar por meu ideal...

Mas a Verdade é mal vista...

Repugnante talvez...

Mas aposto uma vez mais

Neste jogo de xadrez...

Onde o Bispo anda enviesado,

O Cavalo aos pinotes,

A velha Torre, coitada,

De um lado de cada vez...

E os pequeninos Peões

Fazem a frente; talvez

Morram todos defendendo

E, às vezes, atacando,

Vulneráveis em sua tez...

O Rei sempre “bem protegido”

Mas a Rainha... Ah! Esta

É a “alma” do xadrez!...

Não porque seja Rainha

Mas porque é mulher

E tem vez...

Por ser mulher...

Sou bênção e maldição...

Mas se pudesse escolher

É certo que escolheria

Nascer mulher outra vez!...

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Nota da autora:

(*) Frase escrita pelo escritor Hermann Hesse.

(**) Um dos Provérbios atribuídos ao Rei Salomão e que se encontra na Bíblia Sagrada, no Livro de Provérbios, A.T.

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 11/04/2009
Reeditado em 13/04/2009
Código do texto: T1533485
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