Sussurros...
Vozes antigas sussurram esta noite: - Escreve...
Sussurros doces com tempero à nostalgia...
Mas os versos não vêm, e a folha fina e fria
Permanece nua à minha frente! Ela gargalha!...
- Onde estás, ó doce inspiração?
Tu também foges?... – balbucio...
É imensa à noite e eu pareço ébria...
Onde estou eu e onde estão meus versos?...
Até a lua, que pálida sorri,
No céu murmura uma canção sarcástica
E nua flutua, nesta noite morta...
Há angústia no meu peito derrubado,
Tombado ao peso de minha solidão...
Procuro rostos, mas a noite morta,
Levou-os todos à triste escuridão...
- Escreve... Escreve!... – Há uma voz que balbucia... -
Mas eu já não posso... Eu não posso, não!...
Pesa a caneta inerte em minha mão...
- Queixa-te agora!... Para quem, então?...
E a dor me invade... Ó louco coração...
Pesa-me tanto esta solidão...
Ah! Nestas noites em que até o verso
Traz sua recusa de me acompanhar,
Deixa-me só neste momento adverso,
Eu percebo o quanto desperdicei a vida
Atrás de sonhos que não irão voltar...
Teci meus versos em areia móvel
Sem base segura para os sustentar...
E agora canto siluetas mortas
Na noite quieta!... E vêm me assombrar...
Sou eu?... És tu?...
O que é que nós fizemos?...
Só sei que o tempo já não volta atrás
E quando tenho esses momentos loucos
De realidade, não posso nem sonhar...
Nem quero a inspiração de volta!...
Nem quero o sonho! Pudera sepultá-los!...
Escrever letras mortas com mortalha e dor?...
Quero dormir para poder sonhar...
Vagar à noite, ouvir velha coruja.
Enquanto fantasmas vêm me atormentar...
- E eu não tenho forças para os afugentar...
- Poesia, foge! Não há o que lembrar...
E eu adormeço...
- Pudera eu sonhar...