os poemas que não fiz
talvez remetessem à raiz
de sentimentos profanos
de sofrimentos mundanos
como os que nunca eu quis
debaixo da colcha da cama
ou calmo, imprensado na lama
arfando como a meretriz
os poemas que não fiz
quebraram a minha vidraça
me esvaziaram a taça
causaram-me a cicatriz
que hoje exibo solene
que ela é pra sempre, perene
como o licor de anis
os poemas que não fiz
não sei se fizeram-me frágil
ou se me tornaram portátil
como um lap-top infeliz
mas hoje não quero o lamento
só quero da vida o alento
de tê-los no esquecimento
saber que não pude e não os fiz
Rio, 13/02/2009