JÁ NÃO SINTO SAUDADE

Não há muito do que ter saudade
as nossas palmeiras devastamos
e restou só a triste realidade:
todos os sabiás já matamos

Feito estúpidos, desmatamos,
jogamos esgotos em nossos rios
florestas inteiras derrubamos
pela ambição foram-se os brios

Das várzeas, onde estão as flores?
Ficaram escuras as estrelas
até do céu borramos as cores
foram-se as matas brasileiras

Só resta lembrar o que já não temos
o silêncio substituiu o gorjear
as aves que nas gaiolas prendemos,
melancólicas, não querem cantar

Límpido outrora o oceano
é agora cemitério de peixes
dizimados por brutos insanos
usando dinamite aos feixes

Homens fazem tudo prá destruir
emporcalham os seus mananciais
viver não é mais razão para sorrir
recordações boas não tenho mais

Da terra que deixei vou esquecer
já não há o exalar dos matagais
o mutismo saúda o amanhecer
matamos aves, plantas, animais


Em pouco, não haverá amanhã
nossos netos de sede morrerão
somos infantis como Peter Pan
nossos sonhos, breve, acabarão

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 23/03/2009
Reeditado em 23/03/2009
Código do texto: T1500963
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