Amanhã talvez
Os dias são vagos
As noites sem fim
Meu pensamento parado
No tempo, no espaço
Alheio a tudo, longe de mim
Busco pelo nada
Pelo que não foi guardado do que já se foi
E a falta de vestígios
Sinais, pegadas
E o que incomoda: o depois
Cansada do fim, longe do começo
Minha paz pede espaço
Minha cabeça, descanso
Meu coração, consolo
Meu corpo, abraço
Aos meus ouvidos, sem música
Sinto o som chegar
Através dos meus olhos, sem cor
Assisto a vida correr
Deixo uma lágrima rolar
Meus pés se movem
Aqui, no mesmo lugar
Minhas mãos alcançam o nada
Mas se estendem em vão
Querendo tocar
No quarto, no escuro,
No vazio, no chão,
Com o ermo acostumado
Meu corpo sem toque, sem tato
Mas hoje não...
Não venha hoje, não apareça
Não quero levantar
Pois conheço a queda
Do abandono, da solidão
E a dor que ela traz...
Não venha hoje, não apareça
Não quero te ter e perder
Não posso te deixar entrar
Enfrentar-me e vencer
Hoje não,
Amanhã talvez...