Meu céu, seu inferno, nosso pra sempre X Shakespeare

A menina de tranças está trancada no armário

A vida se encarregou de tirar da pobre menina tudo o que amava

Uma madrasta que foi responsavel por lhe tirar a música de seu piano

A tesoura designada pelo destino a rasgar suas bonecas e tirar de seus olhos o brilho de quando as cuidava

O medo implantado pelos tropeços que deu durante suas caminhadas lhe tirou a vontade de se salvar

As estrofes desafinadas de seu som antigo foram aos seus timpanos e lhes tiraram a audição audaciosa que possuia

As borboletas de seu jardim já nao habitam mais em seus sonhos

Todo seu eu agora banhado de sangue

Algo morreu

Ela morreu

Mas para si mesma ainda vive

Para si mesma se levanta a cada queda

Para si mesma acredita que algo ainda possa haver

Para si mesma ela mente e penteia seus cabelos desbotados pela vida

Para si mesma ela muda

Para si mesma ela grava na pele como tentativa de reconhecimento

Para si mesma ela monta em seu alazão e sente o vento no rosto

Mas o vento já não bate mais

Pois a pobre menina de tranças ainda está trancada no armário

As criaturas de contos de fadas

As criaturas de universos desolados

As criaturas que podes sentir

As criaturas como almas

As criaturas de carne e osso, sem coração

Houve o exterminio na Terra

Os corações

Já não batem mais

Me leve daqui

Me faça fada para que eu possa renascer com uma lágrima tua

Derrame-a

Pela ultima vez

Refaça-se das cinzas

Corte seus cabelos

Pinte novamente as unhas

Amarre seus coturnos

Abraçe-me

E me fale palavras que o susurro não possa escutar

Eu pedi

Eu sonhei

Eu matei

Eu morri

Mas o que matei renasceu

E eu continuo morta

Sem paz e sem homicidas

Eu preciso de apenas uma lágrima e um Adeus

Quando a sua voz macia gritou pelo meu nome

Eu ainda estava desfalecida

Me faça fada

Pois de longe quero olhar sua possessividade

Pois de longe quero olhar os teus sorrisos

Pois de perto quero parar de enganar meu proprio coração

Corte seus cabelos, volte a ser um homem negro

Volte a ser o homem que quebrou meu salto

Volte a ser, um não pai

Volte a ser minha muralha

Estou gritando no tumulo

Mas ninguem me ouve

Tape seus tímpanos

Pois vou gritar mais alto

E quando me ouvir

Poderá ver meu cadáver

Poderá então ver meus ossos sem orgãos

Poderá sentir o pulsar do que havia naquela cavidade

Havia um coração

Agora devolva-o

Agora faça a minha melodia

Reconstrua meu piano

Trançe meus cabelos

Pinte minhas unhas

E mate seu proprio filho

Que seja um meu

Que seja um nosso

Chore e me faça fada

Quero te olhar de longe

Quero viver eternamente

Quero ser eterna para lembrar-me de sua pele e cheiro pelo resto de tudo o que haverá de ser eterno até o proximo big ben chegar.

DannaBast
Enviado por DannaBast em 13/03/2009
Código do texto: T1485145