Dezessete anos
Nada recolher do sol abrasador senão a tênue luz
que nos lança em desatino para confrontar a vida
nada perceber senão a rasa memória que nos tolhe tudo,
os filhos que abandonamos, os pais que abandonamos
a existência que relegamos ao impulso mecânico
de ir e vir,
tudo receber dos céus em crescente desagrado
no espectro do que somos nós, autômatos insensíveis
sempre buscamos a possibilidade, o extremo, a glória
mas nossas faces se quedam em desonra e mágoa,
‘meu nome é Tim, tenho dezessete anos
sou ridicularizado pelos colegas, ninguém acredita em mim
estou farto desta vida, tenho armas
voltarei à escola amanhã...’
Nada inquirir do destino que ronda à porta
senão a resposta ao que já revelamos sobre nós
a culpa pelo que somos, pelo que não desejamos ser
um corpo juvenil tomba na lápide de cimento frio
estatísticas e dados sobre tantas coisas, fatos de jornal,
os filhos que abandonamos dentro de nossos próprios lares
tantos filhos,
e o sol
cáustico explodindo raios de luz
nada desejar dos olhos senão que se fechem, devagar
como cortinas sangrentas de um teatro vil
este é o começo do fim.