Poema de primavera
Tenho trinta e cinco anos
cinquenta anos a mais do que gostaria
sete vidas para mim seria muito pouco
mas na verdade nem sei viver direito
minha própria curta emaranhada e caótica
vida,
como então viveria muitas vezes?
Veria catedrais ardendo em chamas
homens e mulheres sem rumo certo,
os dias em que minha certeza era sol
tomando cada espaço, aquecendo a dor
os dias em que me vi sem turbulências
eram dias de primavera,
tenho trinta e cinco anos
oitenta anos da mente cansada
me sinto centenário e as pessoas perguntando
sobre a vida nos anos passados, agonia nostálgica,
meu corpo insiste em duelos com sua própria sombra.
Hoje à noite sairei, colherei flores que dormem
como aquelas prometidas à mulher amada
colherei um pedaço de tempo, o porei entre as mãos
será este o tempo
de toda a saudade, chuva rasa, dia de primavera.
Tenho oitenta anos, mil anos a mais
do que já vivi, e quero agora
ainda mais,
dia de primavera.