Repouso Eterno

E compartilho o silêncio

desses armários que me fitam

neste quarto vazio.

Sua mudez me comove.

Eles não se importam

com a multidão dolorosa

que desfila impávida

na tela da TV.

Nem dos carros que loucos

atropelam idiotas.

Nem das baratas que

escalam a borda da cortina

em busca de mel.

A paisagem que invade

a janela não compensa

êsse pântano.

Os tristes olhares dos insetos

lacrimejam à passagem

dos andores que portam

os áulicos.

O que mais podem fazer

ante a insegurança que

repousa nos parapeitos

dos ministérios?

O que podem fazer

ante a fome, a violência,

os impostos?

Suas lágrimas são

pérolas roubadas pelos

que desfrutam a

injustiça.

Mas o que eu procuro

na floresta de belas pernas

e rabos divinos é

a divina concha

onde possa repousar

eternamente!