Desencanto

Vem anjo azul curar o meu desencanto

aura sutil de brisas suaves, arpejantes

sonho incolor em nuvens cor de prata

que mãos piedosas enxugou meu pranto?

Doce langor de pétalas orvalhadas

sombra da noite dispersou meu sonho

cor de marfim, albor das madrugadas

cheiro agreste de prados luxuriantes.

Clara visão de todas as claridades

fúria do mar em vagas fulgurantes

quebra em meu peito ondas de melancolia

a volúpia dorme seu sono vago, sem emoção

para acordar, de repente, no acalanto do dia.

Em solo estéril eu busquei a própria vida

árvores secas, folhas de outono avermelhadas

a chuva cai sobre as rosas despetaladas.

Como em minh'alma rasga o punhal, sangra a ferida

corre em meu ser ondas elétricas, voluptuosas

acendem chamas que pareciam mortificadas

ateia o fogo no frio da carne impiedosa.

A tua ausência eu sinto tanto, e choro tanto

louca que sou, por ter lastimado meu desencanto.

Isabel Camargo Pontes