Horas de dor
Eram tantos relógios, cada um com seu passo
todos a marcar uma mesma hora.
Eram tantos relógios, e uma sensação enorme de atraso.
Eram tantos relógios, mas quanta demora!
Tantos relógios a tiquetaquear.
Tantos. Que algaravia!
E no entanto é longa a noite.
Essa paciente acaso verá o dia?
Dor, a pobre tem espamos de dor. E chora.
Tudo lhe dói. Tudo.
Dói, dói, dói, dói, dói...
Doze badaladas doloridas, longas, sofridas
doze vezes a relembrança da vidraça partida.
As pessoas passam na rua,
Ela revê os estilhaços na pele sua.
E, à dor física, junta-se esse medo da morte.
"Cansei de sofrer dor", ela me diz,
e ali estão os ponteiros por testemunha.
E fazem também o papel de algoz. E o de juiz.
Insensíveis ao drama que se desenrola,
eles apenas prenunciam má sorte:
Dói, dói, dói, dói, dói...