EU ,CÂMERA...
Vou levando a tiracolo
Clicando nas direções
A imagem é meu dolo
Os filmes, revelações.
Penetro olhares estáticos
Com indiscreta inquietude
Do por que dos obstáculos
Que lhes mudam as atitudes.
Ao focar nos seus rostos
Seus olhares não me negam:
-Não são rugas seus desgostos
São as fugas que lhes cegam.
Fogem dos amores e lidas,
Dos atos e seus temores,
Das dores há muito idas...
São suas fotos incolores.
Ninguém quer ser natural
Quando posa p’rum retrato
O que terá de anormal
Mostrar o que se é de fato?
O diafragma se contrai
E velozmente dispara
E quando a revelação sai
Vejo a face de outra cara.
No objeto de uma foto
Por milagres eu apelo
Ao revelar, outro noto,
Mas a verdade, não revelo.
Em alguns quase acredito
Pelas suas ousadias
Mas não os vejo tão bonitos
Quando as buscam noutro dia.
Também tenho ilusões
Quando a minha lente eu fito
Por que nas revelações
O meu outro é mais bonito?