Eutanásia

Há um lobo morrendo aqui dentro

ferido, entrevado nas construções disformes,

todas as minhas aspirações de repente viraram cinza

os heróis e mitos tem pouco tempo de vida,

por favor, desliguem as máquinas!

Sol de horas constantes, meu sangue silencia

olho jornais , telejornais, papéis entristecidos

vozes que anunciam a próxima agonia,

guerra

aqui dentro

lá fora

paz

nos campos minados,

vida minada

crianças aprendem

que outras crianças são inimigos

que outros homens são pragas mortíferas,

há um lobo morrendo aqui dentro

alcatéias inteiras morrendo, uivando sob luas pardas

as histórias vividas em sonhos

quedaram-se em florestas lúgubres

onde desejos há muito feneceram,

eu sei

corações ainda batem

olhos estão abertos

um sopro de vida ofega em músculos exaustos

desliguem

desliguem as máquinas.