QUIMERA DE UMA PÁLIDA AQUARELA

Escrevi o meu futuro em traços pálidos

na tela em que passei a desenhar

teu rosto de aquarela desbotada

que um sonho outrora fez-me acreditar.

Mas eis que esse futuro era quimera,

a vida encarregou-se de apagar

e a tela, que pintei com teu retrato

passado não tardou a se tornar.

Perdi minha inocente juventude,

perdi minha certeza e sensatez,

perdi minha paleta de dez cores,

e todo o meu orgulho e polidez.

Hoje, o meu cinismo é só compasso

que uso nessa tela corrompida:

sem rumo, não consigo mais um traço,

perdido na aquarela dessa vida.

Deixei o meu talento numa tela

que o tempo divertiu-se em me roubar:

quimera de um amor que não deu certo,

retrato de quem nunca voltará...