O QUE EU FAÇO AGORA?

E agora?
me diz o que eu faço
se meus ossos parecem
querer me deixar
se em cada passo
me sinto desmaiar

E agora?
toda a esperança deixada
no teu silêncio angustiante
em álcool, tabaco e saudade
a carne dilacerada
sem dó nem piedade

E agora?
descubro o limite irrisório
entre o amor e o ódio
chego a odiar tua fraqueza
n'um rompante transitório
contra minha própria natureza

Mas e agora?
não há remédio ou cura
que me tirem da prisão
encarnado em revolta e saudade
desisto enfim da procura
em lhe convencer da verdade

Ou será que a verdade está posta
à mesa e eu não percebi?
Que sempre esteve exposta
a me dizer: é tudo farsa!
castelo de areia! Ilusão!

Ainda não me entrego
a ferida aberta ainda pulsa
jorra desesperança à revelia
do amor que curava
da vida que pulsava
da nossa alegria

Ainda que eu sucumba
à tamanha dor de pensar
que estava errado meu coração
te dou minha vida
dele, cada pulsar
séculos a fio
a te esperar
absorto, esgotado
abnegado,

Se vens, já não creio
mas só posso renascer
ao ver teus olhos,
tocar tua boca
descansar em teu seio....