Ânimo? Qual ânimo?

Poesia de Miguel Torga. De facto, como dizia o outro poeta, «desde a harmonia do caos à arrumação da anarquia, todo o tempo é de poesia». Todo, mesmo quando da não entrega dos OI/ Objectivos Individuais e sequente sensação de... sei lá! Que estranho, eu, a pessoa mais arredia da realidade quotidiana, a fazer o meu 25 de Abril. Eu a resistir (ou a desistir), eu...para aqui...mais meia dúzia ... a dizer, como o outro poeta... NÃO SEI POR ONDE VOU, SEI QUE NÃO VOU POR AÍ!!!

PLATEIA

Não sei quantos seremos, mas que importa?!

Um só que fosse, e já valia a pena.

Aqui, no mundo, alguém que se condena

A não ser conivente

Na farsa do presente

Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,

Nem talvez a mais certa,

A da partida.

Mas podemos fazer a descoberta

Do que presta

E não presta

Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira

Quotidiana.

Esta comédia desumana

E triste,

Que cobre de soturna maldição

A própria indignação

Que lhe resiste.

MIGUEL TORGA