ANACRONISMO
Revisitando algumas palavras
As que escrevi
E as que não
As que li
E as que não
Reencontro velhas dores
As que senti
E as que não
As que vivi
E as que não
Relembro-me de alguns conselhos
Os que ouvi
E os que não
Os que segui
E os que não
Assim,
Apago e acendo
A luz de meu quarto
E os rabiscos do teto
Ainda são os mesmos
De minha infância
De minha mocidade
Implacavelmente os mesmos
Anacronismo que me persegue
Numa inutilidade impecavel
De um viver inútil, descabido
Desconcertante, desenxabido
Nesse vagaroso morrer
Lento morrer que não me mata
Que corroi e não consome
Que desgasta e não destrói
Lenta mó que não me moi
Volto-me para o espelho
No afã de ver o meu rosto
Não o reposto; O verdadeiro
E o espectro do absurdo
Como um retrato mal focado
Delineia a minha face
Face ao exposto
Imposto pelo tempo e pela dor
Deixo-me jogar-me ao chão
Jogo o jogo da vida
Jogo assim, minha vida
Quebro a casca do ovo
Jogo o jogo de novo.