O século XXI e o homem
Lá vai aquele homem
Para o lado oposto
Deitando o rosto
Paralelo ao chão
Mera semelhança
Ao personagem de Miguel de Cervantes
Tal qual cavaleiro errante de antes
Na corda bamba da vida
Já cansado de ver o ontem
Semelhante ao dia de amanhã
Como bolinhas de fruta de romã
Na infinitude das horas
O homem em silêncio segue
Pois tanto gritou pela liberdade de expressão na ditadura
E que hoje a cultura nos deixa a cabeça vazia e escura
E ele segue, cético, sem lenço e sem documento
Lá vai o homem e sua luta
Contra os dragões da própria consciência
Que incendeiam sua subjetividade de demência
Perdendo a própria clemência
Todos seus heróis morreram de overdose
E os seus inimigos continuam no poder
Que por puro egoísmo põem tudo a perder
Em nome da auto-satisfação
Ele tenta distinguir sonho e utopia
Ele tenta ser melhor que ele mesmo
Mas já não tem força e fica a esmo
A se entorpecer com músicas do passado
O homem já não chora mais
Tem a dureza e a tristeza de uma pedra de sol a sol
E meio a agitação do mundo ele é um atol
Mergulhado em si mesmo
Às vezes deseja que seu relógio pare
Até que o pássaro preto de Edgar Alan Poe
Um pio de “never more” lhe soe
Pra´s coisas que ficaram
Lá se vai o último fiapo do dia
Chega a noite feito dia de luto
E o homem se recolhe sob um viaduto
Sob jornais de fatos iguais aos de ontem e os de amanhã
Ele não dorme
Não se deixa enganar
Fica então a pestanejar
Observando que até as estrelas estão sempre no mesmo lugar
Ah, se ele pudesse ao menos voar...