Poema Nulo
como todos os outros
todos os outros meus
talvez todos mais que os meus
talvez ser nulo é ser poema
um ser nulo é um ser poeta
que o que sinto penso e digo
nunca será contigo
que o que sinto penso e escrevo
jamais será o que devo
e se um dia meu martelo
poder bater em tua porta
será claro: estará morta
adoeci-me sentindo
sentindo sem sentido
pra não curar ninguém
que curar ninguém queria
nem eu queria também
e tudo aquilo que não disse
talvez fosse o meu dever
falei por mim e fiz por nada
suicidei-me sem morrer
senti na pele não ser Deus
velando a dor de todo um mundo
e ouvi ao fim de umas senhoras:
“quem faz verso é vagabundo...”
mas sempre dará muitas voltas
as curvas do Espaço-Tempo
em suas não-curvadas
revoltas
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